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Maria Isabel Barreno (1939 – 2016)

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A Coordenação do Ensino Português em França vem publicamente expressar o seu profundo pesar pela morte de Maria Isabel Barreno, Conselheira para os assuntos de Ensino do Português, junto da Embaixada de Portugal em Paris, entre os anos 1997 e 2003.

Maria Isabel Barreno cuidou atenta e dedicadamente do ensino da Língua e Cultura Portuguesa para os alunos lusodescendentes, deu particular atenção a atividades culturais, nomeadamente concursos de fotografia e exposições, que eram, à sua maneira, uma forma de acarinhar, partilhar e promover a cultura portuguesa.

No desempenho da sua missão, Maria Isabel Barreno ficará para sempre associada à integração do Língua Portuguesa como língua viva estrangeira, no sistema de ensino oficial francês.

Conseguiu junto das autoridades francesas que os cursos ELCO, na altura acessíveis apenas às crianças de origem portuguesa ou de países lusófonos, fossem abertos a qualquer criança que nele se quisesse inscrever, independentemente da sua origem. Devemos-lhe a introdução, nas escolas primárias, do ensino do português como LVE, língua viva estrangeira. Em 2001, 2.500 alunos, em 32 escolas primárias, tiveram Português como LVE. Este número subiria para 4.600, no ano seguinte.

Quando iniciou a sua missão apenas existia a Secção Internacional Portuguesa do Liceu Internacional de Saint Germain-en-Laye. Fez as diligências necessárias para que, em colaboração com diretora desta secção internacional portuguesa, fosse aberto um polo da secção internacional portuguesa de Saint Germain-en-Laye num collège e numa escola primária em Le Pecq. O seu empenho por este tipo de ensino levou-a a lutar pela criação de outras secções e, quando terminou a sua missão, já estavam a funcionar as secções internacionais portuguesas do collège-lycée Montaigne e do collège-lycée Balzac  em Paris, assim como a do collège-lycée international de Grenoble.

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Maria Isabel Barreno é uma das vozes mais originais da literatura portuguesa, saudada imediatamente pela crítica, logo após a publicação do seu primeiro romance,  De Noite as Árvores são Negras (1967). Cidadã e escritora militante em consonância com o seu tempo, a sua obra põe em cena uma  sociedade fechada que amordaça e aliena os homens e, em particular, as mulheres face a todos os condicionalismos da sociedade burguesa.

A sua participação nas Novas Cartas Portuguesas (1972), livro coletivo escrito em parceria com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, inspirado na literatura feminina do século XVII, abalou e pôs em causa o regime pela ousada exposição da problemática feminina que punha em causa preconceitos, tabus anquilosados de uma sociedade paternalista e falocrática. Proibido pela Censura, com um processo no tribunal, com imenso impacto na imprensa internacional, só a Revolução dos Cravos as iliba (Maria Isabel Barreno gostava de contar do imenso prazer que teve ao conseguir roubar, em pleno tribunal, o exemplar completamente anotado do advogado do regime !). 

Ainda que a sua obra coloque no centro a questão do feminino, através do que se poderá chamar uma escrita feminina (A Morte da Mãe, 1979, romance/ensaio em que a voz solitária de uma mulher dialoga com os atavismos mais primários da sociedade ou como se anuncia explicitamente no título Inventário de Ana,1982), ela é atravessada por uma voz indagadora, que interroga as falsas evidências, a ordem aparente e lógica, desconstruindo uma visão da sociedade e do mundo patriarcal,  dando chaves, apontando sinais,  para que o leitor trace o seu próprio caminho a partir das ruínas. A sua escrita torna-se pura interrogação, onde o lirismo, vai a par com uma dimensão de cárater sociológico e, sobretudo, filosófico. 

Como ensaísta elaborou vários estudos, na área da sociologia, sobre a juventude, os trabalhadores de origem rural, a imagem da mulher na imprensa, a condição da mulher portuguesa.  

O seu livro de crónicas, de pendor ensaístico, Um Imaginário Europeu (2000) escrito durante o seu período como Conselheira para os assuntos de Ensino do Português em Paris, reflete sobre a nossa pertença à Europa, em termos de imaginário,  ao mesmo tempo que questiona a nossa auto-representação desse espaço e suas consequências para a adoção de políticas linguísticas e culturais.

(José Manuel da Costa Esteves, responsável da cátedra Lindley Cintra da Universidade Paris Ouest – Nanterre – La Défense)

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